Altair Bordignon, uma referência na trilha do EI

Altair, em foto deste ano: uma trajetória admirável a caminho do 40º EI

  Ele é uma referência! Na Edição Imperdível e histórica do 40º Enduro da Independência, o gaúcho Altair Bordignon, de Erechim (RS), estará presente. Entre muitas histórias contadas, aos 67 anos de idade ele contabiliza 33 anos de competições com um saldo de 67 títulos e 23 vice-campeonatos.

  Conversamos com o dono desta invejável trajetória e ele conta situações incríveis e emocionantes, de dentro e de fora da trilha. E – claro! – o Enduro da Independência reserva capítulos importantes nesta longa e única trajetória. Altair sabe o que é escalar o topo do sonhado pódio, e em categorias diferentes. Ele conta qual a frase com que arrancou aplausos da multidão, na edição 2009 do EI.

PAIXÃO ANTIGA

No Enduro da Independência 2009

“Minha paixão pelo motociclismo começou antes de eu nascer. Nos anos 50, meu pai (senhor Jose Bordignon) adquiriu seu primeiro veículo, um motociclo BSA de origem inglesa. Logo depois, ele e meu tio montaram uma oficina de conserto de motociclos e lambretas. No início dos anos 60, a lambreta se instalou no Brasil e começaram a produzir o modelo LI e eles começaram a revender nos três estados do Sul. Meu pai sem nenhum estudo fabricou dois veículos com motor de lambreta para um cliente dele especial, primeiro um aberto e depois um fechado. Esse motociclo tem uma história: eu caí antes de eu nascer, minha mãe grávida de sete meses na garupa do meu tio, achando que ele ia parar no ponto de sempre, colocou o pé no chão e meu tio sem perceber a arrastou por mais 100 metros e eu sobrevivi. Aos oito anos de idade, aprendi a andar num modelo de lambreta importado, produzido bem antes de eu nascer. Aí entrou no meu DNA e nunca mais parei”.

A VESPA E A LAMBRETA

“Vamos para o segundo capítulo. Aos 13 anos de idade ganhei uma vespa, aos 15 ganhei uma lambreta zero e logo depois a Xispa, que era a evolução da lambreta. Mais tarde veio a RD 125 da Yamaha com dois cilindros, dois pistões de cinquentinha, girava 15.000 RPMs e queimava mais vela do que no dia de finados. Logo após, a Suzuki GT250 e aos 22 anos de idade ganhei a primeira moto CB 500, aonde comecei a fazer as minhas primeiras viagens para fora do estado. Depois dela veio a CB 750, famosa “sete galo” que marcou época no mundo inteiro. A última “estradeira” foi a CBX750, em 1986, e em 1987 fui a Goiânia com amigos assistir à primeira prova de mundial de motovelocidade do Brasil. Naquela época, o piloto mais famoso era o Randy Mamola, da Suzuki, e aconteceu a história do Césio 137, em Goiânia. De lá para cá, sempre tive uma moto de uso misto, não senti mais falta das estradeiras porque eu já respirava off Road”.

A SEMENTE DO ERECHIM OFF ROAD

“Terceiro capítulo. Em 1981, com 25 anos de idade comprei uma Honda XL250R e comecei a desbravar as trilhas no Norte do Rio Grande do Sul plantando a semente do Erechim Off Road. A moto parecia que flutuava no ar. Eu era acostumado com as motos de choque. Montei uma roda traseira completa para os finais de semana com o único pneu da época, da Pirelli. Sem nenhuma orientação aprendi a andar sentado e com os pés no chão e é assim até hoje: não sei andar com motos altas. Em 1984, troquei por uma Honda XLX250 e fui para o meu primeiro Enduro. Não gostei de ter que olhar planilha, cronômetro, velocímetro e os metros de chão pela frente. Em 1988 fomos para a Agralle 27.5 Explorer. Em 1989, por insistência do meu amigo Flávio, iniciei no Enduro e estou até hoje.”

NO URUGUAI

“Quarto capítulo. Competições. Em 1989, com 33 anos, comecei para valer no enduro na Copa Vale do Rio Uruguai. Na primeira prova fui 15°, na segunda fui oitavo, e na terceira conquistei minha primeira vitória e acabei campeão da temporada. Depois vieram Campeonato Gaúcho, Brasileiro, Copa Motocar, Copa Sudoeste do Paraná, Copa Oeste de Santa Catarina, Sul  Brasileiro, Catarinense, Enduro da Independência, Piocerá…. E em 2019, meu primeiro Ibitipoca Off Road. Trinta e dois anos (em 2020) um saldo de 60 títulos, 23 vices, 750 troféus e 64 medalhas.”

TÍTULOS HISTÓRICOS NO INDEPENDÊNCIA

No EI 2011

“Quinto capítulo. Em 1997, meu primeiro de 10 independências, prova de três dias e dois válidos pelo Campeonato Brasileiro. Conquistei meu primeiro título nacional na categoria Over 35 já com 42 anos de idade. Retornei em 2009 e venci na Over 50. Fui aplaudido por uma multidão na Praça de Mogi na minha entrevista, quando falei a seguinte frase: “todo piloto de regularidade tem que fazer pelo menos um Independência, senão é como ir para Roma e não ver o Papa. E se for para o pódio, é abençoado”. O último 2017 foi mágico com largada em Aparecida (e sou muito devoto a ela). Todos foram dos deuses, venci um na Over 50 e dois na 55 mas esses três ficaram mais marcados na minha memória. Eu fui na edição dos 30 anos do Enduro da Independência, devo ter participado de umas 10, 12 edições e não poderia perder essa de 40 anos”.

PAPAI NOEL DE ARREPIAR

“Último capítulo, o mais importante. Em dezembro de 1989, tive a ideia de sairmos de Papai Noel e retribuir o pessoal do interior onde treinávamos nas trilhas, para levar alegria, balas e brinquedos às crianças. Em uma comunidade a cerca de 20 km de Erechim, uma vó de 92 anos me abraçou e me beijou e disse que já podia morrer porque ela tinha visto um Papai Noel de verdade. Antes do natal seguinte, ela faleceu. Aquilo me marcou para sempre. Em uma casa que abriga pessoas em tratamento de câncer, uma mulher me falou  de duas coisas que vão ficar na memória dela: o dia do diagnóstico da doença e aquele dia –  ela nunca tinha visto tanto Papai Noel de moto. Tem um grupo de 15 “Noéis” motociclistas. Durante o mês de dezembro andamos pelo interior e no perímetro urbano de Erechim e região levando alegria para as pessoas. Enquanto Deus me der saúde não vou parar.”

META

Altair Bordignon: uma referência histórica na modalidade tem presença anunciada na Edição Imperdível

“Estou com artrose no quadril esquerdo e joelho esquerdo. Quero aguentar mais três anos até 2025. Aí completo 45 anos de Off Road. Eu treinava uma, duas vezes por semana e estou me poupando agora porque com os meus problemas de artrose eu queria ir até os 70 anos competindo, mais três anos. Então estou me poupando agora. Andando um final de semana sim e outro não, exceto quando tem competição. Já teve há pouco tempo três enduros em três finais de semana, andamos direto.”

Texto: Misto Quente Comunicação

Fotos:: Arquivo Pessoal

Coordenação: Lúcio Pìnto Ribeiro