Vamos conhecer um pouco mais deste ilustre personagem? Adhemar Euclydes pode ser chamado de “Senhor Independência”! É o único piloto que disputou todas as 39 edições do Enduro da Independência e já está confirmado na Edição Imperdível e histórica de 6 a 10 de setembro de 2022.
Ele primeiro vai se apresentar e falar um pouco da família, aliás, as histórias das famílias (a dele e a do EI) se misturam. Em seguida passaremos às perguntas, combinado?
“Tenho 68 anos. Nasci dia 19/4/1954. Minha esposa, Monica Cury completou 24 Enduros da Independência (entre 1984 e 2008), tendo feito o de 1987 em dupla comigo, na Categoria Dupla Graduado. Meu filho, Ian Cury, fez comigo, em dupla, o EI de 2009. Minha filha Rebecca Cury com seis meses foi amamentada pela mãe nos neutralizados do EI de 2002. E foi presença constante em todos os EI até 2008”.
Pronto. Com vocês o piloto cem por cento Enduro da Independência (Euclydes é um dos homenageados especiais pela coordenação da prova na exposição “40 x Independência”, já em cartaz no Centro Cultural Movimento, na estância de Socorro-SP)
1) Como surgiu o interesse para participar da primeira edição do Enduro da Independência, em 1983?
O Off Road, aqui no Rio de Janeiro, aliás como quase em todo o Brasil, teve um grande impulso com a chegada em 1981/1982 das DTs e XLs!! Começamos a nos aventurar por trilhas na Floresta da Tijuca (a maior floresta urbana do mundo. (Atualmente não se pode mais fazer trilha lá!!) Logo depois expandimos nossos horizontes para cidades próximas. Em 25 de julho de 1982, o Marcelo “Berrel” Gomes, proprietário de uma fazenda em Conservatória, realizou a 1ª Prova de Trail (enduro de Velocidade). Com isso, Conservatória tornou-se o destino preferido de todos que estavam começando no esporte. Outras provas lá aconteceram, sempre na modalidade de Enduro de Velocidade, que os mineiros chamavam de “Enduro de Pau dos Cariocas” e sempre apareciam por aqui para competir. Foi na premiação de uma dessas provas que ouvi falar, pela primeira vez em uma Prova Off Road (Enduro de Regularidade, coisa que nós, cariocas, não tínhamos a menor ideia do que seria), com três dias de duração, do Rio a BH pelo trajeto que Dom Pedro usava nas suas viagens a Minas (creio que aqui cabe uma nota importante: O Enduro da Independência gerou a pedra fundamental do que hoje é a Estrada Real.) Todos nós que tínhamos adotado o trail como esporte preferido não pensávamos em outra coisa que não fosse participar do Enduro da Independência!
2) De que você se lembra mais da 1ª Edição da prova?
De cara, a aula do Ayres Mascarenhas, em uma revenda Honda, sobre navegação, equipamentos, planilha, cronômetro, método da meia noite (coisas das quais nunca tínhamos ouvido falar..), cuidados com a moto, etc. Foi aí, que nós, cariocas, começamos a aprender e entender o que era um Enduro de Regularidade.
As propagandas veiculadas na TV Globo, uma das patrocinadoras da prova, em horário nobre, nos transformavam quase que em heróis. Algo como os novos bandeirantes!!! Não havia a menor possibilidade de não estar lá!!!
A Quinta da Boa Vista, com o Palácio Imperial ao fundo, e aquelas centenas de motos alinhadas para a largada promocional, com toda certeza, ficarão para sempre na memória de quem lá estava! Foi uma grande confraternização entre pilotos mineiros, paulistas e cariocas que se seguiu com um churrasco, oferecido pela Honda, no seu Centro de Treinamento na Barra da Tijuca.
Da prova em si, lembro do nome de algumas trilhas, como a “Expurgo da Indexação”, na região de Três Rios, da chuva torrencial que pegamos após Juiz de Fora e do fatídico “Oleoduto”, já próximo a Santos Dumont. Não há, também, como esquecer, das transmissões ao vivo que a TV Globo fez nos neutralizados e na chegada, bem como as matérias veiculadas no Esporte Espetacular e no Fantástico!
3) Você viveu a emoção de participar do Enduro da Independência com sua esposa, Monica, e em outra oportunidade, com seu filho. Pode nos contar um pouco de cada uma dessas experiências?
A Mônica já tinha participado dos Independências em 1984, 1985 e 1986, sempre em dupla com outra mulher. Já tinha uma experiência considerável na prova e não conseguiu encontrar uma parceira, do seu nível, para disputar a prova. Assim resolvemos que eu não competiria sozinho na categoria Graduados (única categoria a andar sozinhos) e participaríamos em dupla. Agora, um detalhe a ressaltar: como eu era da categoria Graduados (a Master de hoje), a Mônica, que era da categoria Júnior (uma abaixo da graduados), foi obrigada a se inscrever na minha categoria, a Dupla Graduado, que era uma categoria de pilotos TOP! Ela teve de mostrar tudo que tinha aprendido, inclusive queimando embreagem, caindo em MBLVC e empenando a frente da moto. Mas fez bonito e chegamos incólumes em BH!!!
Foto da nossa largada está eternizada na página 37 do Livro dos 30 anos do Enduro da Independência.
Em 2009 a Mônica não pôde competir pois tinha acabado de sair de uma gripe H1N1. Assim sendo, meu filho, o Ian, que sempre ajudava no apoio e ficava de olho comprido em participar, herdou a moto e a inscrição da Mônica. Ele já andava bem, mas não nos sentimos seguros de ele andar sozinho numa prova como o Independência. Resolvi que faria dupla com ele e foi uma grande emoção andarmos juntos por quatro dias. Lembro bem de uma subida enlameada, no último dia, próximo a Mogi da Cruzes, que eu subi e ele não conseguia, por mais que tentasse. E falava: “minha moto não sobe isso!!!”. Foi então que desci, a pé, a tal subida, peguei a moto dele e subi na 1ª tentativa. Lembro de dizer a ele: “sua moto sobe, sim!”
4) Em 2019, o Independência criou a categoria Clássicas e você disputou com uma Yamaha DT 180, confere? Como foi essa volta no tempo, remetendo, talvez, ao primeiro EI, no já distante 1983?
Eu participei do 1º Independência, da 1ª Prova da Categoria Over 40, da 1ª Prova da Categoria Over 50, da Primeira Prova da Categoria Over 55 e da Primeira Prova da Categoria Over 60! Não poderia ficar de fora da Categoria Clássicas, com motos de mais de 20 anos. Resolvi voltar às origens e, com uma DT 180 1989 (com 31 anos), me inscrevi na “Clássicas”. A moto foi toda desmontada e preparada para uma prova dura! Guidon e aros de alumínio, raios grossos, estojos do cilindro e buchas da balança reforçados, coisas que davam muitos problemas nas primeiras DTs foram substituídos e adicionamos navegador Totem EVO e road book elétrico, coisas com que nem sonhávamos em 1983!!! Logo no primeiro dia a embreagem deu o fora, ainda nas trilhas de Socorro!!! Caiu, então, a ficha que eu estava ali realizando um sonho. Resolvi fazer a prova para chegar. E chegar inteiro!!! Lembro de um comentário que fiz: “Nas subidas: não tinha motor, nas descidas: não tinha freio, nas trilhas: não tinha suspensão e nas retas: não tinha braço!!!!”
O importante foi que cheguei lá!!!
5)Algum local específico que tenha ficado guardado de maneira especial na memória nestes 39 anos de participação na prova? Pela beleza, ou pela dificuldade, ou pelos dois motivos, enfim, aqui seria uma escolha sua mesmo
Como esquecer da 1ª vez que avistamos as montanhas próximas a BH?
Como esquecer do “Topo do Mundo?
Como esquecer do Chafariz de Dom Rodrigo?
Como esquecer do “Fim do Mundo”?”
Como esquecer da “Galopeira”?
Como esquecer do “Inferno Verde”?
Como esquecer das chuvas torrenciais que sempre aconteciam no Independência?
Enfim, como esquecer das confraternizações com os outros pilotos, antes, durante e após as provas?
6) Como você viu o fato de seu nome ter sido eleito como o nome do mascote, numa votação feita 2019 (prova largou de Ubatuba-SP)?
Não tenho uma ideia formada. Foi em Ubatuba, num dia chuvoso, mal soube da votação para escolher os possíveis nomes. Nem lembro se votei. Em Itajubá, o Lúcio me pediu para comparecer à divulgação do resultado do dia. Não tinha a menor ideia de que meu nome tinha sido escolhido para o mascote do Enduro da Independência. Foi uma grata surpresa.
7) Como os pilotos de todo o Brasil que você (re)encontra a cada ano, no Enduro da Independência, conversam com você, nos bastidores da prova? Perguntam muito sobre como começou sua trajetória, quais são as principais curiosidades, especialmente dos pilotos mais novos?
Os bastidores do Independência me tem sido muito gratificantes. Não só pelo reencontro com pilotos e amigos, que só vejo anualmente, como pela interação com pilotos mais novos que sempre têm curiosidade de saber como tudo começou. Costumo citar que a maioria dos pilotos que aqui estão não era nascida à época do 1º Enduro da Independência!!!
8) E a sua dificuldade em conseguir participar a cada ano, com suas obrigações na Marinha?
Minha vida profissional de Oficial da Marinha do Brasil sempre foi um fator complicador para estar disponível na época do Enduro da Independência. Navios viajam e sempre há um comandante que não ache importante a participação. Fora isso, existe o 7 de setembro, com desfile militar no meio de um feriado, na maioria das vezes prolongado!!! Realmente, não tenho ideia de como consegui essa façanha!!!
Lembro do Independência de 1990. O único com sete dias de duração (na realidade, seis dias pois houve um dia de intervalo). Eu competia na Graduados e largamos de BH com pernoite em Tiradentes e chegada em São Lourenço. O dia após a chegada seria livre para o deslocamento dos pilotos e das motos até Ubatuba. Nesse dia, eu estaria de serviço na minha Base, no Rio de Janeiro. Assim sendo, chegando a São Lourenço, parti para o Rio de Janeiro a tempo de assumir o serviço, no dia seguinte pela manhã. Passei o dia tentando convencer outro oficial a me render para que eu pudesse continuar na prova (lógico que autorizado pelo Imediato). Consegui a substituição às 20h. Parti para casa, onde a Mônica me esperava, com tudo pronto, para a viagem noturna de mais de 8 horas até Ubatuba. Pouca gente soube do sufoco que passamos para estar presentes àquela largada!!!
Texto: Misto Quente Comunicação
Fotos: Arquivo Pessoal e Léo Tavares
Coordenação: Lúcio Pinto Ribeiro